Quarto da Agnes

- Nós dois sabemos bem disso.- ele disse, cutucando levemente o nariz dela, com um sorriso quase malicioso,que não durou muito, no entanto.- Ué, mas eu tive uma ajudinha pra tirar...

Depois de imitar um arzinho falso de inocência e já cheio de espuma do sabonete, ele ficou debaixo da água morna também, notando visivelmente o vapor mais denso que exalava da pequena Agnes.

- Eu que devia fazer as cortesias aqui, ok?- ele ia envolver as mãos na cintura dela, não fosse uma mecha grisalha e molhada ser puxara para seu olho por causa da água, e fazê-lo arder de forma breve por ter pego espuma no processo. Ele quis rir, apesar de ter colocado imediatamente as mãos de volta no rosto.- Ai...

Pietro riu numa sútil malícia, não podendo evitar - e nem evitaria se pudesse - os pensamentos que vieram rápidos como um flash das memórias sobre a noite anterior. Porém, quando ela falou, ele tornou a erguer a mão brevemente, girando a válvula de temperamento, e a quentura da água suavizou mais e mais até se tornar fria... e depois gelada.
Pietro se abraçou a ela - claro que se inclinando no processo, ou ele abraçaria as prateleiras de vidro quem sem dúvida tinham mais a ver com a sua altura do quê a pequena Agnes -. O rosto dele pousou no ombro dela de forma breve, e ela não pode ver os braços dele quando fizeram aquilo - apenas seu vulto - mas quando ela se desse conta, seus cabelos bicolores estariam todos esparramados pelos ombros dele.

- Pelo menos a água que escorre de você é quente.

Ele se recompôs logo, no entanto, depois de depositar uma mordida leve no ombro dela, e, após um sorriso bobo, beijá-la brevemente.

- Brincadeira, não sou tão fresco. Está bom pra mim.

E a seguir sentiu o assopro no olho, piscando algumas vezes. Uma das íris azuis-acinzentadas dele estavam envolta de vermelho graças a irritação do sabão, mas ele sentiu o ardor diminuir aos poucos, ainda mais quando deixou a água cair no rosto.

- Lembro de quando eu tentava ficar intangível quando isso acontecia... sabe? Vibrar o corpo tão rápido a ponto da matéria não ser pega pela água ou sabão. Mas eu nunca consegui direito. Só um pouco.- ele deu de ombros, voltando a fitar Agnes por debaixo da corrente cristalina e molhada.- Hey, fale mais. Mais sobre a Aqua-alguma-coisa-Marine; ah é, Sea.

- Faz?- Pietro indagou ao franzir o cenho.- Os meus são super sedosos e eu só costumo usar água quente. Sem querer ser convencido, mas já sendo, claro.

Ele quis piscar para ela, mas o olho ainda ardia bastante para que ele conseguisse ter de fato um controle sobre as piscadas deste.

- Não se preocupa, baixinha, tá melhor sim. É a vida, nem sendo o cara mais rápido do mundo você vai conseguir escapar do shampoo no olho.

Não pode ele sentir as lágrimas não convencionais que saíam do olho irritado já que a água banhava-o dos cabelos e o rosto todo, mas sabia que estava lacrimejando, pois a água dentro do olho parecia bem mais quente que a do chuveiro.
Não que se importasse.
Depois de coçar o olho por uma última vez, ele ergueu Agnes nos braços, fazendo-a enlaçar as pernas em sua cintura. Aquilo de fato a ajudaria no processo de querer ensaboar os ombros dele. As costas dela ele encostou de forma sútil contra a parede do box, saindo um pouco de debaixo do chuveiro forte e gelado. Aquilo o fez tremer um pouquinho, mas com Agnes abraçada a si, mesmo que tenha esfriado, continuava mais quente que ele, e isso, naquele momento, jamais pareceu tão aconchegante.
Foi um beijo que ele depositou bem próximo ao lóbulo da orelha dela, para depois inclinar a cabeça, sentindo a espuma aumentar sobre sua pele a cada vez que a mão dela passeava em um escorrego tão suave como algodão.

- Não faço ideia, nunca calculei. Mas eu não tenho certeza se consigo passar da velocidade do som. Geralmente me diziam que era meu limite, embora eu possa mantê-la por muito tempo.- ele fez um biquinho.- É, eu sei, triste isso. Muito triste, mas sei que posso ir além, um dia consigo.

Após dizer tudo em suas palavras tipicamente rápidas, onde as vírgulas mal eram notadas, Pietro voltou a franzir o cenho.

- Seu oposto? Cara, cuidado, vai que ela é a Arnett disfarçada. Quer dizer, se é pra ser seu oposto, deve ser alguma coisa bem gelada, não? Ou o suficiente pra apagar seu fogo.- ele abriu um sorrisinho travesso, enquanto retirava a franja bicolor ensopada que caíra sobre um dos olhos de Agnes. Era claro que ele tinha entendido no segundo sentido da coisa - não que ele esperasse que Agnes fosse entendê-lo também - embora a intenção não fosse fazer piada.- Ela é sua irmã? Ou algo assim? Ou foi...- ele pigarreou, e logo voltou ao seu tom rápido: - Criada pela sua mãe pra tentar, sei lá, te parar?

- Se você tomasse banho de água quente, o vapor no espelho ia ser um problema. Até porque você mal consegue alcançar ele.- Pietro fez piada, com um sorrisinho sarcástico a seguir... que logo murchou quando ela falou depois.- Nah, calada...

Sutilmente, deixou o queixo pousado no ombro dela, ainda a segurando contra a parede, sentindo sem pressa se encher de espuma.

- Do jeito que ele é cheio de arminhas com poderes estranhos, tenho medo é de quebrar minhas pernas. Vai saber.

Ele não esperava que ela percebesse o duplo sentido - afinal, não seria Agnes se isso acontecesse. De qualquer forma, ele franziu o cenho diante da informação, e endireitou o rosto, passando a olhá-la de frente, uma sobrancelha grisalha erguida.

- Sua mãe é meio pirada, mas não esquenta. Nada vai te fazer mal. Eles tem que ser um pouco acima da velocidade do som pra chegar em você.

Daquela forma, depositou um beijo nos lábios da garota, e apertou-a de forma um tanto mais forte que antes, sentindo os corpos colarem com a água e o sabonete escorregadio por alguns instantes, antes que ele a soltasse com leveza, e passasse para debaixo do chuveiro, afim de tirar a espuma do corpo, piscando o olho - ainda sutilmente vermelho - para Agnes daquela vez num estado grato. Até ele terminar, e sacudir levemente a cabeça e os cabelos que pareciam de um cinza mais escuro agora que molhados.

-É problemático da mesma forma, acredite... e eu nem sou tão pequena assim.
+Ela fez bico, chateada, enquanto continuava seu trabalho. Passou a água fria nos ombros dele, limpando-os para depositar um beijo ali.+
-Arminhas? Ele mostrou muitas experiências quando eu desmaiei?
+Ela piscou, por um tempo, na duvida... e então voltou lentamente ao assunto original.+
-Mesmo assim... acho que deveriamos investigar, você não acha? Tipo Sherlock Holmes?
+Ag sentiu a aproximação dos corpos e suspirou com o beijo, rendendo-se parcialmente a sensação. Depois, viu-se novamente no chão, observando-o enxaguar seu corpo.+
-Hei, eu também tenho que entrar ai de baixo...

- Aham... só meu bacon enlatado é do tamanho da sua perna. - o sorrisinho dele aumentou... mas depois sumiu tão rápido como um engasgo repentino surgiu, e ele desviou o olhar.- Ah, é, claro, ele, ah é, eu perguntei a ele sobre o que ele tinha nos bolsos...

Pietro realmente começou a pensar que devia ser mais devagar na hora de falar ou ia acabar estragando tudo sobre a situação passada, a qual Agnes não fazia ideia que tinha acontecido. Bem, era algo que ele não podia controlar, contudo. Agradeceu momentaneamente por Agnes ter voltado ao assunto de tema.

- Agora que você falou de Sherlock, eu até fui com a cara da ideia. Vamos terminar aqui e podemos brincar de Batman-investigando-casos, que tal?

Ele estendeu os braços para ela, assoprando água que tentara entrar em sua boca.

- Ué, então vem, eu não sou tão largo assim.

Mas ele não realmente esperou, o que fez com que, no segundo seguinte, sem saber exatamente como, Agnes estava emparelhada com ele, sentindo suas mãos em seus cabelos bicolores.

- Tipo, um milhão e algumas delas dão medo. Asiáticos...- ele brincou - ou talvez não, porque a expressão não mudou. Na verdade, ele não pode deixar de pensar que, se fosse asiático, talvez ele pudesse usar seu cérebro extremamente rápido para fins mais lucrativos do quê ser o melhor jogador em Zombies at My Neighbours.
É claro que ele não ligou muito para essa hipótese. Se achava bom demais e o resto não interessava, como sempre.- Sim, o Robin, ele é da sua altura e as roupas dele são roupas de menininha mesmo.

Talvez fosse a mágica Agnes não notar exatamente como chegara debaixo da água; não era relevante, e Pietro se mantinha abraçado a ela, o sabão já tendo esvaído de seu corpo completamente, e agora dava adeus no ralo.

- Como você sabe? Já perguntou pro Batman? Ele é um super gênio, tipo um Tsuki número dois. Vai que tem umas ventilações naturais na roupa e...

Ele franziu o cenho.

- Por que a gente tá falando disso mesmo?

Ele riu. Pelo visto, os assuntos aéreos de Agnes pareciam de fato tão intrigantes que ele sequer percebia quando embarcava em um. Não tinha nada do quê reclamar. Ele adorava isso, essa influência que a lentidão dela tinha sobre ele, de alguma forma.
Desligou o chuveiro quando viu que a água tinha sido suficiente para o sabão também dar um tchau à Agnes, e logo saiu do box rapidamente, deixando-o aberto para que Agnes passasse a seguir. Depois de embrulhar a cintura numa toalha quentinha, ele estendeu outra à Agnes.

- Aqui, toma. Talvez você precise de outra pra enxugar esses dois metros de cabelo cheirando a ervas doces.

Uma sobrancelha grisalha se ergueu, enquanto os olhos azuis percorriam Agnes de cima a baixo.

- Você é asiática?- ele indagou como se aquela pergunta tivesse a mesma proporção de algo como "como assim você é um alienígena espião?".- Sério?

Quando ela se desse conta, Pietro já estava em sua frente, inclinado para que ficasse da altura dela - ou quase - e mexia na franja molhada, levando-a para longe dos olhos vermelhos da garota.

- Ah, nem são tão puxadinhos assim.

No milésimo seguinte ele já estava no quarto, a toalha antes na cintura agora ele enxugava os cabelos acinzentados.

- O Robin só é fresco e você tem razão, vou ser o Homem de Ferro, ele é mais engraçado que o Batman. E você não cresce depois dos quinze anos, é muito difícil, mrs.baixinha.

Ele sorriu para ela.

- É claro que combinam. Eu adoro seus cabelos. Acho que vou até pintar os meus assim... brincadeira.

- Pra mim só é asiática se tiver olho espremido. Se não for isso, você é tipo um crossover de japa. Mas pelo lado científico e chato da coisa você tá certa, fosfórozinho.

Foram apenas vultos e a voz dele soando pelo quarto. Nas mínimas paradas que fazia, ela podia ver que ele já tinha vestido a roupa íntima, que particularmente era de um verde gélido com um raio prateado bem onde o volume ficava. Depois, ele já estava com um jeans claro. Naquelas corridas, o quarto estava respingado levemente aqui e ali pela água que antes estava nos cabelos dele, que agora, com o vento forte graças a rapidez, estavam com as pontas mais secas - embora não o resto.

- Eu sei, eu gosto de parecer ser confundido com um velho nas ruas quando me vêem de costas... na verdade, só quando eu uso roupas mais simples mesmo.

Depois, no centro do quarto, em frente ao espelho da penteadeira, ele estava com um moletom de capuz e zíper fechado que parecia exatamente a mesma cor da cueca, e tinha o mesmo raio prateado e brilhoso, que atravessava-o pelo lado esquerdo do peito e fazia um zigue-zague nas costas. Um tênis branco all star e pronto.
De onde ele tinha tirado aquelas roupas, se era o quarto de Agnes?
Mistério.
Mas as anteriores, a jaqueta prata, a blusa do Pinky Floid, a calça preta, também já não estavam mais ali. Bem, o quarto deles não era tão longe... não para Pietro.
Ele sacudiu a cabeça, e, com um pente, passou-os nos cabelos sem cor.

- Enfim, de olho puxado ou não, você sabe que ia ficar linda de qualquer jeito.

- Que fofinha você fica falando "poxa vida". Quer dizer, mais fofa. Isso você já é naturalmente. Agnes devia ser tipo, o significado de fofura numa língua extinta por aí.

Deixou novamente o pente sobre a penteadeira e jogou os cabelos para trás, olhando-se no espelho em giros breves de cabeça, erguendo as sobrancelhas, fazendo pose, até que rapidamente agarrou um desodorante, e apenas o barulho do spray deste foi ouvido, já que o vulto de Pietro parecia ocupado demais em fazer sabe-se lá o quê pelo quarto - e ele parou a seguir, ainda com o desodorante em mãos, olhando-o com certa confusão.

- Ih, é desodorante de mulher. Ah não, sério, Pietro? É claro que é, é da Agnes. Eu devia ler rótulos com ias frequência, mas deixa pra lá. E é, ninguém ia de fato confundir, eu conheço quase todo mundo dessa base. E a maioria me odeia, então não ligo, é recíproco mesmo.

Pietro sumiu de novo num barulhinho de vento zunindo. O desodorante girou no ar de forma brusca por segundos, como se ainda não tivesse se acostumado a ideia de não ter mais uma mão o segurando de forma tão repentina, antes de cair em cambalhotas ao chão.
Agnes pode sentir as mãos dele sobre os cabelos dela, ajudando-a no processo de formar as maria-chiquinhas.

- Nem aqui nem na China que você pareceria um demôniozinho. Seus olhos vermelhos não dão tanto medo assim, tá? Se eu fosse usar metáforas, eles são tipo, não um mar de sangue, mas um mar de, sei lá, groselha? Acho que sim.

- É, eu ouvi dizer sobre essa deusa também, por isso eu disse numa língua extinta. - ele mostrou a língua e, já perto de Agnes, segurou as maria-chiquinhas pré formadas, para que ela apenas precisasse passar os elásticos por elas. - É, eu acho que esqueci disso por um segundo sim. Culpa sua que fica me distraindo sendo tão linda. Ah, essa galera é a maioria babacas chatos. Não faço questão que gostem de mim mesmo.

É claro que ele não ia citar os vacilos que teve com cada um ,afinal, se uns coppelions ali odiavam Pietro, a culpa era toda dele de abusar demais das pessoas, mas ele achou melhor não tocar naquele fato com Agnes.

- Pô, não é estranho, é groselha, é bom...

- Quando cada segundo é uma hora pra você, você tem muito tempo livre pra aprender sobre coisas enquanto toma refrigerante e limpa o quintal ao mesmo tempo.- ele piscou um dos olhos azuis para ela, se afastando quando ela terminou suas maria-chiquinhas costumeiras..- Tiraria a de qualquer um, se você quer saber.

Ele deu de ombros num biquinho infantil quando ela falou sobre aquelas pessoas, mas logo estava na frente do espelho de novo, jogando o cabelos um pouco para trás para que mesmo na umidade seus cabelos continuasse em seu aspecto típico. A seguir, ao lado dela novamente e de repente, ele a pegou pela mão.

- Alienígena, sei, tipo groselinígena. Ei, não tá esquecendo de nada, Ag? A gente já pode sair?

- Menos quando sua mãe te força a limpar o quintal, a sala, e o quarto da sua irmã caçula ao mesmo tempo.  Sabe o que é pisar em lego? É a pior dor do mundo.- ele fez uma careta, sacudindo a cabeça ao lembrar da dita ocasião.- Nah, você ia ganhar muito mole, mas aí ia vir cara até do Afeganistão de olho em você, então eu teria muitas caras pra surrar ao mesmo tempo. Não que isso me canse.

Ele abriu um sorrisinho ganancioso, e deu de ombros, segurando-a pela mão quando sentiu seus dedos entrelaçarem, e então ele a puxou levemente para fora do quarto.

- Tá afim de ir no shopping pegar umas coisas e comer uns lanches, baixinha? Se a gente não tem missão hoje, temos que aproveitar. Ei, fosforozinho, diz pra onde você quer ir.

Ele arregalou os olhos azuis por um momento.

- Você já pisou em taxinhas?

Ele a abraçou sutilmente, como se sentisse pena, e deu batidinhas leve sobre a cabeça dela. Mas, o comentário dela a seguir o fez sorrir de forma convencida.

- Eu sei, eu sou demais.

Ele passou pela porta antes mesmo dela, mas levou-a consigo no ato.

- Então vamos lá!- mas aí ele respirou fundo.- Ok, sem super velocidade, ou você pode ficar enjoada demais pra tomar sorvete... que tal tomar sorvete no shopping?